TRIBUTO A FAMILIA

Quando nasceu meu filho, logo percebi que algo estranho acontecia.
Corriam de um lado para outro até que me veio a notícia: “seu filho é especial e precisa de cuidados especiais”.
Não fiquei chocado como esperava, parti para a luta, procurei os melhores especialistas, pois, os médicos dos meus outros filhos não serviam.
Eu o acompanhava no dia-a-dia. Vi sua alfabetização, todo o primeiro e segundo grau e a formatura.
Minha missão estava cumprida, mas em toda esta luta jamais deixei de pensar que um dia fosse encontrar alguém que pudesse me explicar o que tinha acontecido.
Não vou dizer que esqueci tudo, mas toda aquela luta já parecia coisa do passado, até que um dia encontrei um senhor que respondia e explicava tudo para todo mundo. Aí me veio novamente aquela vontade de saber, porque tudo aquilo tinha acontecido.
Me aproximei do senhor e “Ele” me perguntou:
Que queres saber?
Então lhe contei toda minha vida e falei do meu filho. E “Ele” me disse, mostrando um grande álbum: “mostre seu filho e lhe responderei”. E se afastou.
Por mais que procurasse, não encontrei ali meu filho, encontrei um muito parecido, mas, com certeza, não era ele.
Quando o senhor voltou, eu lhe disse: meu filho não está aqui. Este parece muito, mas, não é ele. Mas é ele, disse o senhor.
Então perguntei: onde estão suas dificuldades. Você não parou ainda para pensar que elas podem não existir e que seu filho é apenas diferente do que você esperava?
Mas ele tinha deficiências e eu lutei minha vida inteira por ele.
Não você lutou por você, depositou em seu filho todas as suas frustrações. Você não criou um filho, você o construiu de acordo com suas vontades. Nunca viu nele um filho, só as deficiências e tentou protegê-lo de tal forma que tirou sua personalidade. Deu-lhe tudo de bom e de melhor, porém, esqueceu o principal. A família, os irmãos e o sentimento que cura a alma “o amor”.
Só existia ele e você.
E o senhor virou-se e foi embora.
Eu sozinha comecei a pensar em tudo. Sacrifiquei minha vida, passei despercebida, discriminei minha família, meu filho, me isolei e o isolei também.
Meu está pelo mundo afora.
Como fui egoísta, passei toda minha vida tentando corrigir um erro que não cometi. Criei meu filho como gostaria que ele fosse, mas nunca perguntei-lhe o que queria ser. Eu o afastei das pessoas ao invés de aproximá-lo.
Nada é mais importante na vida que nossas raízes e pessoas queridas.
Fiz do filho um eremita, pois, é com a família que aprendemos a conviver com os outros e eu não ensinei-lhe isto.
Como gostaria de voltar atrás, porém, não há mais tempo, por que com esta reflexão, entendi tudo.
Minha missão estava finalmente cumprida, cheguei ao fim da minha vida. Aquele homem era Deus.

Ady Alves Ferreira.